São Silvestre - 31/12/2015
Era trinta e um de dezembro de 2014, fazia quarenta dias que
havia optado por mudar meu estilo de vida. Com oito quilos a menos, às sete e
quinze da manhã, eu embarcava na estação Vila Prudente do metrô rumo ao
Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, hospital onde trabalho e faria o
meu plantão. A cada estação que o trem parava entravam corredores uniformizados
para São Silvestre.
Havia senhores idosos, jovens e até adolescente. Suas
expressões mostravam ansiedade de participar de uma das mais festivas provas de
rua da América Latina. Embora, meu objetivo naquele trem era o trabalho, fiquei
contaminado pela aquela motivação.
Do alto do décimo nono andar pude ver o mar colorido dos
corredores vindo da Paulista e colorindo a avenida Dr. Arnaldo e a Major
Natanael. Tirei algumas fotos e prometi que em um ano eu estaria lá embaixo
sendo mais um pontinho colorido preenchendo as ruas de São Paulo.
Foram trezentos e sessenta e cinco dias pensando nesta
prova. Comecei a correr na esteira preenchendo 1Km, depois de trinta dias
chegava nos 5Kms e após cinco meses atingia nos meus treinos o degrau dos
10Kms. Com vinte quilos a menos em novembro atingi a meta dos 15kms e assim
estaria um mês antes da prova pronto para corrê-la. Neste período contaminei
amigos, familiares e fui responsável em “reinfectar” meu amigo e compadre, que
antes fora um corredor amador e com meu estímulo pude reascender os pares de
tênis, que estavam hibernando nas gavetas do seu armário.
O objetivo na minha primeira prova de São Silvestre, prova
mais longa que faria até então, era não andar! Trotar era permitido, mas andar
jamais!
Assim após um ano, lá estava eu. Um pontinho laranja na
Paulista, um pixel na multidão. Aos vinte sete graus de temperatura, liguei meu
setlist, a prova começava. Embora os roqueiros, companheiros de muitos treinos
e provas durante o anos, que gritavam pelo meu fone de ouvido quisessem me chamar
a atenção, durante a Paulista, resolvi ignorá-los. Queria ouvir o grito das
pessoas nas ruas, os fogos, o barulho do helicóptero e até as vuvuzelas. Ao descer a Paulista na conexão com a avenida
Dr. Arnaldo, pude notar as pessoas nos assistindo acima pelo vão. Arrepiou.
Não tenho dúvidas que foi a prova mais difícil que havia
feito, pois havia dois grandes obstáculos. Primeiro a temperatura, correr entre
as nove e onze da manhã próximo aos trinta graus, qualquer avenida plana
transformou-se numa leve subida, segundo a Brigadeiro, com este calor,
tornou-se um parede, quase um escalada no final da prova, mas sempre vinha a
mensagem. Andar? Jamais!
O lema na subida era: fracione as metas, não veja o fim da
brigadeiro, alcance a próxima esquina e depois a outra, depois o viaduto da
treze de maio e assim por diante.
Enfim, novamente, os fogos... virava à direita. Estava no
topo, na Paulista.
Confesso que o sal dos suor misturou ao das lágrimas.
Foram cento e dezoito minutos. Tempo de uma tartaruga com
artrose nas patas, mas um tempo olímpico para um ex-sedentário.